Explore o mundo em duas rodas: é mais fácil do que você imagina.
“Precisamos de muito pouco para viajar de bicicleta.” Duvida? Quem afirma isso é nada menos que Antônio Olinto, o primeiro brasileiro a dar a volta ao mundo de bicicleta. Ele partiu em 1993 e, em três anos e meio, conheceu 34 países em quatro continentes, pedalando mais de 46 mil quilômetros – viagem relatada no livro No Guidão da Liberdade.
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O viajante nunca mais conseguiu voltar para a vida que tinha antes. Hoje, Olinto mora em um trailer com Rafaela Asprino, sua companheira há 12 anos. Juntos, eles trabalham descobrindo caminhos pelo Brasil e pelo mundo e lançando guias com todas as informações para que outros ciclistas possam se jogar nessas aventuras.
Entre os caminhos mapeados, estão rotas como a Estrada Real, no sudoeste do Brasil. No momento, trabalham em um roteiro que irá da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, até o sul da Bahia.
A seguir, Olinto dá dicas valiosas para quem quer viajar de bicicleta.
PRECISA SER EXPERIENTE PARA FAZER UMA CICLOVIAGEM?
Antes de mais nada, Olinto distingue fazer “turismo de bicicleta” e “viajar de bike”. “Qualquer um pode pegar uma bicicleta e conhecer o centro de uma cidade como São Paulo, por exemplo. Mas isso é um passeio. Já fazer uma cicloviagem consiste efetivamente em usar a bicicleta para viajar, cruzar uma longa distância. O cicloviajante tem que estar fisicamente preparado”, diz ele.
Se tiver condicionamento físico para pedalar, aí você resolve o problema da falta de experiência escolhendo um roteiro clássico, com infraestrutura de hotéis e restaurantes.
QUAL O EQUIPAMENTO MÍNIMO PARA VIAJAR DE BICICLETA?
Obviamente, uma bicicleta. Olinto considera um bagageiro um item indispensável. “Dentro da simplicidade, em uma bicicleta com bagageiro você já consegue levar pelo menos uma bolsa ou um saco com muda de roupas e objetos de higiene pessoal. Já dá pra sair pedalando em um circuito que te ofereça comodidade, com pousadas e restaurantes em distâncias bem próximas um do outro.”
Levar roupas e itens básicos em uma mochila nas costas não é recomendável, pois desgasta muito o corpo.
Um acessório clássico são os alforjes, bolsas especiais para prender no bagageiro. Se você quer experimentar viajar de bike para checar se gosta da brincadeira antes de fazer um investimento maior, pode prender uma bolsa ou mochila com elásticos no bagageiro e escolher um roteiro com hotéis e restaurantes, sem precisar acampar e cozinhar. Gostou? Aí então você pode investir em equipamentos específicos. Existem boas marcas nacionais e já é possível encontrar no Brasil alforjes importados de excelentes marcas.
>> Ouça o podcast Bikehub sobre cicloviagens, com Paulinho, do Sampa Bikers.
O QUE LEVAR EM UMA VIAGEM COM ESTRUTURA?
“Quanto menos você carregar, melhor. Mas isso também depende do percurso escolhido. Se você puder contar com alguma assistência, precisará de pouca coisa”, diz Olinto. Um kit básico pode conter uma muda de roupa de pedal, uma muda de roupa confortável para depois (que pode ser a mesma para dormir), itens de higiene pessoal, uma toalha compacta, ferramentas da bike e objetos pessoais como celular e câmera fotográfica.
“Você pode viajar com o que já tem, não precisa sair comprando um monte de coisas para fazer sua primeira viagem de bicicleta.”
PARA ONDE IR AO VIAJAR DE BICICLETA?
Quem está começando pode procurar uma rota clássica, que já tenha sido mapeada por outros cicloviajantes e que possua boa infraestrutura de hospitalidade. “Uma das mais simples para os iniciantes – embora não seja fácil em termos de pedal – é o Caminho da Fé, no interior do estado de São Paulo. É simples porque a infraestrutura está pronta e é bem barato. Outra tranquila de fazer é o Vale Europeu, em Santa Catarina”, recomenda Olinto.
A dica de ouro de Olinto é quebrar o roteiro em vários dias, caso o percurso pareça muito desafiador (nunca esqueça de conferir a altimetria!).
“Você pode tanto optar por fazer em menos dias pedalando mais ou diminuir as pernadas aumentando a duração da viagem”, aconselha. Cicloviajantes profissionais como ele costumam produzir guias completos sobre diversas rotas, e a Internet tem fóruns repletos de gente querendo trocar experiências.
Nesse caso, cheque sempre as informações para evitar roubadas, como chegar cansado à noite em um camping que não existe mais.
PRECISA ACAMPAR, FAZER A PRÓPRIA COMIDA E PASSAR PERRENGUE?
Nada como viagens inclusivas! “Nós gostamos de autonomia e de aventura. Mas isso não quer dizer que outro tipo de viagem não seja legal. O importante é realizar aquilo que você sonha. Cada um tem um desejo de viagem, e não há problema algum em gostar de mais conforto. Qualquer viagem já ganha outra dimensão e muito mais riqueza se você a fizer de bicicleta”, resume Olinto.
Se quiser ser mais independente, a recomendação é aumentar o grau de dificuldade aos poucos, para dominar os macetes de acampamento e planejamento gradualmente. E esteja ciente que imprevistos acontecem.
IR SOZINHO, EM DUPLA OU EM GRUPO?
Todos os modos têm seus prós e contras. “Fiz a volta ao mundo sozinho e foi interessante. Quando você está sozinho, fica mais vulnerável, porém as pessoas se aproximam mais de você, não se constrangem de chegar perto”, conta Olinto. Há 12 anos, ele conheceu Rafaela Asprino, sua companheira de vida e de pedal.
“A gente passa o dia juntos e viaja juntos. Acabamos vendo o mundo a quatro olhos. É muito mais fácil eu lembrar de coisas agora, porque tenho Rafaela para conversar. Muitos episódios de minha volta ao mundo eu esqueci porque não tinha com quem falar”, diz ele.
“Um dos aspectos interessantes de nossa viagem pelo Irã e Turquia, países com muita diferença de gênero, é que em determinados ambientes só um de nós tinha acesso. Coisas que para a Rafa eram proibidas, ela conheceu através dos meus olhos. E coisas que eram proibidas para mim, vi pelos olhos dela”, conta.
Ele não é um grande entusiasta de viagens em grandes grupos: atos banais como pedir para acampar no quintal de alguém podem se tornar impossíveis com muita gente, por exemplo. Evite grupos com quem você não tem afinidade!