Potencímetros podem ser ferramenta valiosa para obter informações sobre o treino

Hoje em dia, muitos treinos voltados para a performance são baseados nos números obtidos pelos medidores de potência durante o pedal.

Para entender melhor para que servem e quais são os tipos de medidores de potência disponíveis no mercado, conversamos com dois especialistas na área: o treinador Ronaldo Martinelli, da 5 Ways Coaching, e o fotógrafo, documentarista e ciclista amador Caio Guatelli, que foi da seleção brasileira júnior de ciclismo e até hoje pedala com dedicação.

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Os principais tipos de medidores de potência, hoje, são os strain-gauges ou extensômetros, instalados em uma dessas três partes da bicicleta: pedivela, pedais ou eixo do movimento central. “O modelo que ficava no cubo da roda traseira, que já foi muito popular,  caiu em desuso por não ser tão prático”, explica Ronaldo.

Confira a conversa:

PARA QUE SERVE O MEDIDOR DE POTÊNCIA?

RONALDO: A principal vantagem dos medidores é a informação, já que eles possibilitam medir muitas variáveis de treinamento. Você associa os dados às suas condições aeróbica e anaeróbia para ver como as variáveis estão sendo trabalhadas.

O medidor passa muita informação sobre carga de treino neuromuscular, ou seja, o quanto o atleta executa de força e quantas vezes esse esforço é repetido. Assim, é possível estimar o quanto ele ainda tem que produzir de força para melhorar seus resultados.

QUAIS AS VANTAGENS DE CADA MODELO?

Potenciômetro
Um modelo de medidor de potência de pedivela da SRM

RONALDO: Os modelos que vão no pedivela costumam ser um pouco mais precisos do que os modelos de pedal, mas não são tão práticos. Já os modelos de pedal são um pouco menos precisos na medição, mas são capazes de medir a potência em diversos pontos da pedalada e muito mais práticos para alternar entre mais de uma bicicleta.

Medidores de potência
Modelo de medidor de potência da SRM

CAIO: As vantagens e desvantagens são de ordem prática. É mais fácil intercambiar um potenciômetro de pedais entre diferentes bicicletas do que fazer o mesmo com pedivelas ou eixos, os quais requerem mais conhecimento técnico pra serem manuseados.

Contudo, os pedais são peças mais expostas em acidentes, podem quebrar em um simples tombo. Medidores de pedivela e eixo são mais protegidos.

Medidores de pedais também tem outra desvantagem técnica: desgastam mais rápido por serem peças com muitas partes de contato e movimento com a sapatilha.

Medidores de potência
Modelo de medidor para cubo, um dos primeiros a se popularizar

QUEM DEVE TREINAR COM MEDIDOR DE POTÊNCIA?

RONALDO: Qualquer atleta, amador ou profissional, que tiver interesse em conhecer sua carga de treino ou tem um objetivo específico pode se beneficiar do uso do equipamentos. Mas é preciso saber trabalhar com a tecnologia. Se você ou o seu treinador não sabe interpretar os números obtidos para usar coo referências no treino, os números serão apenas números, não terão nenhum uso. Quem quiser ter um treino mais organizado, estruturado e com medição de carga de treino e análise de variáveis.

CAIO: Medidores de potência são indicados para profissionais, amadores dedicados, ou amadores que precisam controlar com precisão seu gasto calórico. (Medidores de potência são em suma, e principalmente, medidores de queima calórica). Amadores que pretendem encontrar prazer e se divertir, devem manter distância desses aparelhos (risos).

COMO TRABALHAR OS DADOS DO MEDIDOR DE POTÊNCIA?

RONALDO: Tudo o que trabalhamos é traçado em cima dos objetivos do atleta. É importante aferir os valores atuais no começo do treino, definir fraquezas e necessidades e trabalhar em cima das variáveis que ele precisa melhorar para progredir no evento. Os estímulos do treino são formatados para que a pessoa evolua nesse sentido. 

CAIO: Para se concluir um segmento no menor tempo possível, deve-se descobrir qual é o nível de força máximo que o ciclista aguenta sustentar por toda sua extensão. Sem um potenciômetro, esse cálculo é muito empírico, se limita à sensibilidade e à experiência de cada um com a percepção de esforço.

Com o potenciômetro, o ciclista pode saber o número exato, em watts, que deve aplicar nos pedais, para alcançar a distância toda no menor tempo possível. Por isso vemos ciclistas que não tiram os olhos da tela do ciclocomputador. Esses atletas estão tentando manter a potência no nível máximo estável pra concluir um segmento.

COMO FUNCIONAM OS POTENCIÔMETROS?

CAIO: Strain-Gauges são nano-condutores capazes de medir micro alterações na estrutura de metais. Quando o ciclista aplica força, esse mecanismo sofre uma torção microscópica. Quanto maior essa torção da peça metálica, maior foi o valor força (F) aplicada pelas pernas do ciclista sobre o sistema. A unidade de força não é o watt. Watt é unidade de potência. Para se chegar à unidade de potência, essa informação de força, cuja unidade é Newton, precisa antes esperar um ciclo completo de pedalada, o qual tem uma unidade de frequência, no caso da bike são as rotações por minuto. O produto de N pelo RPM, entrega a unidade em Watts.

Ou seja, os watts não dependem só da força que o ciclista aplica sobre os pedais, dependem também da frequência com que ele os gira.

Acho importante fazer um paralelo: potenciômetros têm a mesma característica de uma balança, contudo, ao invés de entregar um valor de momento, entrega um valor de período, que leva no mínimo uma pedalada completa.