O Biking Man chega ao país com trajeto autossuficiente pelo Vale do Paraíba.
Uma das maiores provas de ciclismo de longas distâncias do mundo, a tradicional Biking Man terá sua primeira edição brasileira em 2021. A prova acontecerá em maio, com um trajeto de 1.000 km e 17.500 metros de ganho de elevação.
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O percurso, que passa pela Serra da Mantiqueira, deverá ser cumprido em no máximo 120 horas, solo ou em dupla.
Conversamos com o mineiro Vinicius Martins, diretor de prova e criador da rota, para saber um pouco mais sobre como será a prova no Brasil.
Vini falou sobre sua experiência em provas de longa distância e contou como definiu o trajeto do evento.
Confira a conversa abaixo:
QUAIS SÃO SUAS EXPECTATIVAS PARA O BIKING MAN BRASIL?
VINICIUS: Minha maior vontade é ter a prova lotada. Temos 75 vagas, das quais 40 já foram preenchidas. Destas, 10 são ciclistas estrangeiros. Gostaria de ter pelo menos 50 participantes brasileiros, pois é uma prova um pouco diferente do que costumamos ter por aqui.
Creio que mesmo com a pandemia é possível realizar a prova, pois o esquema é 100% autossuficiente, os participantes não pedalam juntos e os serviços e opções de hospedagem locais respeitam os protocolos de segurança.
COMO FOI A ESCOLHA DO PERCURSO PARA O BIKING MAN BRASIL?
VINICIUS: Procurei juntar e conectar uma área que eu gosto bastante, no Vale do Paraíba, passando pela Serra da Mantiqueira, serra do mar, do mar, litoral e Serra da Bocaina, indo até Itatiaia. Quisemos usar várias subidas e principalmente intercalar estradas de terra e estradas de asfalto vicinais, com pouco movimento.
Serão 1.000 km passando por regiões bem habitadas, cortando cidades grandes, cidades pequenas e vilarejos, predominantemente em estradas simples. De pista dupla, serão apenas 25 km.
Também passaremos por algumas das subidas mais duras do Brasil, como a subida de Paraty a Cunha, que vai de 0 a 1.600 metros de altitude.
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DE QUAIS EVENTOS DE LONGAS DISTÂNCIAS VOCÊ JÁ PARTICIPOU?
VINICIUS: Participei da Transcontinental Race (4.000 km) em 2016, já fiz muitos brevês Audax, de 200, 400, 600 e 1.000 km. Não sei mais dizer quantos eventos desses já fiz (risos). Também fiz o Inca Divide 2018 (1.800 km) quando fui finisher (também estive na prova de 2019, mas uma infecção intestinal grave não me deixou completar).
Em 2020 fiz o reconhecimento do Biking Man brasil para definir a rota. Usei minha experiência em provas desse tipo para desenhar o percurso, com os devidos cuidados na organização e tendo em mente o tipo de desafios que queremos oferecer para os participantes.
É um evento multinacional, já houve 17 eventos no mundo todo. Além das provas europeias, já rolaram provas do Biking Man em países como Peru, Laos, Taiwan e Oman. Em 2021, o único fora da Europa será o nosso.
QUAIS SÃO SUAS RECOMENDAÇÕES PARA QUEM QUER FAZER EVENTOS DE LONGAS DISTÂNCIAS?
APOIO PROFISSIONAL
Todo apoio profissional é importante. Se possível, consultar um bom nutricionista e ter o suporte de um treinador ou preparador físico, para ter evolução mais rápida. É possível se preparar sem apoio, mas com apoio a evolução é mais rápida e com chance menor de ter alguma lesão.
ROTINA DE TREINOS
Também acho importante manter uma rotina de treinos de ciclismo frequentes, de quatro a cinco vezes por semana, de bike e funcional. Fazer ultra distâncias significa ficar 10, 12, 16 horas por cima na bike. Tem que ter o abdômen, as costas e a lombar em dia, se não a dor nos membros superiores te tira da bike antes mesmo de fadigar as pernas.
EXPERIÊNCIAS PRÉVIAS
Eventos de longa distância com brevês Audax são uma ótima preparação pois têm características muito parecidas. Mas é importante ressaltar uma grande diferença: Biking Man é uma prova, e os Audax são desafios pessoais onde há um tempo limite para terminar o percurso, mas não existe posição ou competição.
QUAIS FORAM OS MAIORES PERRENGUES QUE VOCÊ JÁ PASSOU EM PROVAS DE LONGAS DISTÂNCIAS?
VINICIUS: Quem pedala muito em esquema autossuficiente acaba vivendo “pequenos” desconfortos mesmo. Durante a Transcontinental passei dois bem memoráveis: um foi encontrar refugiados um pouco agressivos na divisa da Grécia com a Macedonia. Fiquei preocupado.
Na mesma prova, na Suíça, resolve seguir uma rota diferente da que eu tinha planejado, e acabei caindo em uma trilha super dura, estilo all-mountain. Tive que pôr a bike super pesada nas costas e subir a montanha para achar uma saída. Não confiei na minha rota, deu nisso.
Nunca passei fome ou fiquei sem água, mas passei frio, por não estar com a roupa adequada. Por sorte achei um bar com fogão a lenha, fiquei meia hora me secando e me aquecendo.
QUAIS SÃO ALGUMAS DE SUAS MELHORES MEMÓRIAS DAS PROVAS?
VINICIUS: O que guardei mais foram as vistas lindíssimas, especialmente no Parque Nacional Durmitor, em Montenegro, e em um lago no Peru a 4.100 metros de altitude, com um nevoeiro gelado subindo logo de manhã.
QUAIS SÃO OS ERROS MAIS COMUNS EM PROVAS DE LONGAS DISTÂNCIAS?
DE OLHO NO MAPA
O maior deles é se perder. Alguns ciclistas não estudam a rota, colocam no GPS do celular e confiam cegamente naquilo, aí o celular trava ou fica sem bateria e a pessoa fica perdida. Se não levar mapa de papel, ou não souber usar, acaba ficando desorientado.
Esse tipo de erro faz o ciclista perder muito tempo, além de ter um desgaste físico e psicológico muito grandes. Tem que ter o mapa em pelo menos dois lugares e estudar a rota, saber identificar os pontos principais.
Muitos também erram em relação à quantidade de água e comida levadas, não se alimentam com a frequência necessária ou querem comer muito rápido e depois sofrem com a indigestão.
PERDA DE TEMPO
Outro erro é perder tempo à toa, descansando mais do que o necessário, olhando o celular, batendo papo. Em prova, tem que ser rápido. Para, compra a comida, descansa, sai. Mesmo se for para sair devagar, mantenha-se em movimento. Quanto mais tempo você se mantiver em movimento, mais distância vai cobrir. As paradas têm que ser eficientes, porque o que vai fazer diferença é a sua velocidade média.
EQUIPAMENTO X RISCO
Também é preciso saber balancear a quantidade de equipamento e o risco. Por exemplo, você pode optar por usar pneu sem câmara, e levar só uma câmara reserva. Aí corta o pneu traseiro na estrada, você usa a câmara que levou. Depois corta o da frente, agora você vai fazer o quê? Era melhor ter carregado mais uma câmara do que ficar sem opção. Arriscar demais pode atrasar mais do que levar o peso extra.